Serra da Capivara, Piaui, Nordeste do Brasil.
Uma das maiores concentrações de pinturas rupestres do mundo, repartidas em 172 sítios. E ainda há muito a descobrir…
Hoje, a Serra da Capivara é uma região semi-árida, espetada de cactos imponentes. Porém, já foi recoberta por uma floresta tropical, verde, densa, úmida. Povoada de homens, mulheres, crianças, tatús do tamanho de um fusca, preguiças de várias toneladas, tigres dentes-de-sabre, árvores imensas, rios cheios de peixes, flores esquecidas …
A arte rupestre é fascinante. Guardo uma lembrança maravilhada de Lascaux (Dordogne, França). A cena da passagem de Claris no segundo volume das Crônicas de Salicanda foi literalmente inspirada desse sítio ímpar. Lembro de ter sentido a mesma sensação que numa catedral. Reverência, respeito, admiração, assombro… Um lugar de que se sai diferente.
Lascaux é uma gruta. Sombría e silenciosa. As pinturas, protegidas pela escuridão, só se revelam à luz das lâmpadas.
As paredes da Serra da Capivara são abrigos sobre rochas, não são cavernas. Estão expostas ao sol, à chuva, aos mocós, ao canto múltiplo dos pássaros. Não é necessário passar pela escuridão. Assombro sim mas sem medo. As figuras são móveis, parecem dançar, pular, brincar. Transam, caçam. São pequenas, às vezes minúsculas, na marioria vermelhas, mas também brancas, pretas. As paredes emanam uma sensação de alegria, movimento, leveza, esperança. Uma efervescência feliz.
Imprimiram-se sob minhas pálpebras.
Eu as vejo quando fecho os olhos.
Sinto-me diferente.
Se é verdade que tudo está em constante movimento, que tudo é mutante, os pequenos personagens dançantes da Serra da Capivara mostram que o tempo não devora tudo com seus dentes transparentes…
Nem tudo…
É preciso manter a alegria !